sábado, 21 de abril de 2012

Primeiras impressões sobre o teste intermédio de Filosofia – 11º



    Sempre fui um entusiasta dos exames e das avaliações externas. Sinto que o meu trabalho alcança outro valor. Mas já me habituei a exames mal feitos e que questionam o que é deslocado e central nas disciplinas.               Mesmo nada sabendo dos programas de Geologia / Biologia, esta semana estive de serviço com uma turma de estudantes do 10º ano para realizarem o teste intermédio dessa disciplina. Ao ler o enunciado rapidamente me apercebi que grande parte das perguntas eram mais de interpretação de português do que de biologia ou geologia, isto para além da estrutura do teste meter algum dó. Constituído por 4 grupos, todos eles exactamente com a mesma estrutura, como se fossem 4 testes independentes, mas para 90m. Mas deixo este trabalho de análise para os professores da disciplina. Agora quero apenas centrar-me numa primeira análise ao teste intermédio de filosofia.
     O primeiro aspecto criticável neste teste é que pede demasiada interpretação de texto e não pede uma só vez que o aluno pense os problemas filosóficos, que é o núcleo da disciplina. O mesmo Ministério que pede aos professores para inovarem e saírem do mero ensino expositivo que exige somente a repetição acrítica, depois quando faz o seu trabalho, nada mais faz senão do que repetir velhas fórmulas. E a velha fórmula, neste caso, é pedir ao estudante que vá a textos e os interprete e ao mesmo tempo que recorra à memória para aplicar conhecimentos, que o estudante pode ter memorizado mesmo sem compreender. Uma cabeça bem pensante pode não acertar neste teste. E um professor que se tenha dedicado mais a discutir e ensinar a discutir os problemas vê agora os seus estudantes confrontados com um teste que lhes exige algo contrário. Adiante.
     O percurso B do grupo ii, pede um exercício para testar a validade de um argumento. Contrariamente ao que indica as informações prévias de conteúdos para este teste, a disjunção que aparece na primeira premissa é exclusiva e não inclusiva, mas depois nos critérios de correcção a sugestão é a resolução com uma inclusiva. Ainda que possa ser pouco relevante para a validade do argumento não vejo qualquer necessidade de confundir mais um pouco as coisas. Depois pede que se teste a validade pelo método de tabelas de verdade. Ora os inspectores de circunstâncias usam tabelas de verdade, mas o que ali se devia pedir era um teste pelo inspector de circunstâncias. Aconselho a ver no DEF as definições para Inspectores de Circunstâncias e Tabelas de Verdade.
    De notar ainda que não se percebe como é que a filosofia tem um património tão rico de textos e depois as opções dos textos para estes testes são tão pobres. É o caso do texto de Delfim Santos. Confesso que quando li a questão, a primeira do Grupo iii, nem percebi bem o que se pede ali. E ainda agora, após já ter lido algumas vezes o texto, se me posicionar como examinado, pura e simplesmente ficaria perdido, sem saber o que responder.  A questão pede que esclareça o sentido de uma frase. Não pede mais nada. Ora, pensando que se trata de uma questão dirigida aos conteúdos a explorar na Estrutura do Acto de conhecer, questiono-me onde ficaram questões centrais como a tese CVJ de Platão ou as objecções de Gettier, os tipos de conhecimento, etc… Na minha opinião há aqui uma cedência à dispersão de maneiras de ensinar este capítulo que até muitas vezes confunde modelos de conhecimento, como a fenomenologia, com a estrutura do acto de conhecer, como lhe chama o programa. A verdade é que há professores que não ensinam a tese de Platão ou os tipos de conhecimento e é igualmente verdade que o programa não o pede de forma explícita. Então há que colocar uma questão na qual caiba lá tudo. Mas não há razão para o disparate obscurantista que nada dignifica o exame, quando antes se elaborou uma informação exame na qual se deveria ter especificado bem os conteúdos a testar.
     As questões sobre Hume e Descartes são pedidos de comparação e de explicitação, nada mais.
    Não sei avaliar se este teste é difícil ou fácil, nem penso que essa questão deva ser colocada para testes ou exames, já que isso envolve outras questões. Mas é claro que o teste não é um teste de filosofia.
    Uma palavra final. Se por um lado é bom responsabilizar todo o sistema de ensino com avaliações externas utilizando testes e exames, por outro não se percebe a razão pela qual se elaboram ainda exames com um nível abaixo do desejável. Mas prefiro para já insistir com a minha eventual ingenuidade ao pensar que com tempo e experiência se melhoram estas práticas. Espero...
Mais apreciações AQUI e AQUI e AQUI e AQUI e AQUI e AQUI.
Para ver o exame clicar aqui. 

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