segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O mundo, raciocínio e demónios

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O mundo está cheio de fanatismos. É o que mais há. Até as tecnologias são levadas ao extremismo do fanatismo de tons religiosos. O mundo está infestado de demónios. Todos os dias ouvimos notícias tolas e sem qualquer fundamento racional. Esta é também a razão principal pela qual o ensino da filosofia a jovens é tão relevante, para desenvolver o pensamento crítico e autónomo. Um bom ensino da filosofia é um bom antídoto (há muitos outros) para o raciocínio autónomo. Recentemente vi na TV algumas notícias sobre Michael Jackson. Entre algumas outras versões, das mais tolas destaco estas duas:

1) O fantasma de Michael Jackson anda em Neverland.

2) Michael Jackson era um extra terrestre (por acaso também me pareceu muitas vezes).

O que é que há de tolo nestas versões? É que qualquer uma das duas não possui qualquer sustentação racional e são baseadas em crenças falsas, pelo que não as podemos conceber como conhecimento racional e efectivo.

Mas como compreender que estas versões são tolices e não simplesmente acreditar cegamente e confortavelmente nelas? Uma das boas formas é começar a ler alguma boa introdução à filosofia. Talvez o mais acertado ainda fosse ler alguma boa introdução à epistemologia e avaliar como as crenças humanas são formadas. Na falta de disposição para o exercício essencial filosófico, que tal ler a obra de Carl Sagan, Um mundo infestado de demónios, Gradiva? Trata-se de um livro que nos ajuda a perceber a origem dos mitos e dos fantasmas que muitas vezes nos povoam a mente. O tema dos extra terrestres, muito em voga na altura da edição original do livro, tem um tratamento de destaque. Mas o livro aborda ainda questões relacionadas com a natureza das crenças religiosas e de modo muito claro explica ainda como se forma falácias no raciocínio.

Claro que para a leitura atenta é necessária abertura cognitiva, isto é, o leitor tem de estar disponível para questionar as suas próprias crenças. Se assim é temos ainda um pequeno problema para responder. Como fazer com que um fanático seja capaz de questionar as suas crenças? Não é próprio do fanatismo pressupor que as suas crenças estão já mais que justificadas? Talvez aqui seja melhor ir um pouco atrás e ler mesmo algo de filosofia. A minha sugestão é que se comece pela Alegoria da Caverna de Platão. Sem grandes rodeios é possível que o fanático compreenda a sua circunstância no mundo. Mas, mesmo pressupondo a leitura inicial de Platão e se seguíssemos as suas premissas, só na educação temos uma resposta eficaz para a formação do pensamento crítico. O fanatismo não é algo que se abandone ao fim de 300 páginas lidas. Mas tem de se começar por algum lado.

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