Além dos habituais testes de conhecimentos, estamos nesta
altura do ano a estudar duas teorias morais objetivistas, a deontológica de
Kant e a consequencialista de Mill. Já sabemos que a primeira é deontológica
pois é uma ética baseada nos princípios racionais, ao passo que a de Mill é
baseada nas consequências da ação. Qualquer uma destas teorias procura
responder ao problema de saber o que é uma ação moralmente correta. Inicialmente
este é um problema embaraçoso, pois, ao contrário da novidade dos problemas que
estudas nas disciplinas, saber o que é uma ação correta não é um problema novo
para a maioria de nós. E é embaraçoso pois também achamos que até já temos boas
respostas a esta questão. Na verdade talvez as nossas respostas contenham
alguns problemas se pensarmos um pouco atentamente nelas. As nossas respostas
mais imediatas a estes problemas envolvem contradições, já que em algumas
alturas defendemos a posição X para logo numa outra altura, com as mesmas
condições, defendermos a posição Y. (o dilema do elétrico é isso mesmo que nos
mostra). Isto acontece porque provavelmente nunca pensamos seriamente no
assunto. Pensar seriamente é pensar de modo sistemático e é aqui que a
filosofia entra e as teorias podem ajudar a compreender melhor os problemas.
Não é de esperar que as teorias nos resolvam os problemas mais quotidianos, do
mesmo modo que aprender um teorema matemático não nos ajuda a lavar melhor a
roupa ou aquecer o jantar. Mas em certo sentido é verdade que as teorias de
muitos problemas tratados pelos filósofos dizem respeito aos problemas mais
elementares e básicos da vida humana, como é este o de saber o que é certo e
errado. Todas as áreas de atividade humanas procuram dar resposta a este
problema, o de saber o que é o certo e o errado. As religiões são respostas de
acordo com aquilo que Deus determina como sendo a ação certa e a ação errada. Os
cientistas estão convencidos que algum dia vão encontrar no cérebro a
localização exata que nos faz diferenciar o certo do errado. Os antropólogos
procuram as respostas nas raízes etnográficas de um povo. E os filósofos procuram
dar resposta ao problema com razões e argumentos. Portanto, ter a oportunidade
de ouvir o que dizem os filósofos e discutir o que eles defendem é também a
oportunidade de irmos um pouco além das nossas crenças.
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