quinta-feira, 12 de julho de 2012

Será que a Arte nos proporciona conhecimento?


Tive um longo período da minha vida em que só ouvi músicas experimentais, jazz cruzado com improvisações de dj`s, electrónicas lo-fi, músicas feitas com instrumentos pouco convencionais, aquilo que eu chamava na altura de pop desconstrucionista, etc… Fui muitas vezes confrontado com a estranheza de amigos e pessoas próximas que defendiam que tais músicas eram desagradáveis e mesmo horrorosas. Recordo que um colega de rádio chamava ao meu programa da altura, o Hipnótico, “o programa de discos riscados”. Havia lugar para quase todo o tipo de músicas que constituíssem um desafio intelectual às convenções. Confesso que hoje em dia tenho uma relação mais pacífica com as convenções e até muita da música que ouvia nessa altura é mais convencional do que eu pensava. E também me dei conta de muita charlatanice pelo meio. Mas a justificação que eu sempre dei é que tinha duas razões principais para ouvir aqueles discos tão atentamente:

1)      Proporcionam prazer estético.
2)      Acrescentam valor cognitivo.

Mais tarde rasguei mais alguns horizontes e cheguei mesmo a ficar somente com a razão 2). O que eu nunca soube durante esses anos todos é que existe muita bibliografia filosófica a defender estas mesmas teses.
Quem se interessa por estas razões temos disponível em língua portuguesa, de um autor português, um livro que nos coloca a par de uma forma muito clara com os principais argumentos a favor destas teses, em especial da segunda, sempre conjugada com a primeira. O livro em causa, O valor cognitivo da Arte, resulta do melhoramento de uma tese de mestrado. Mas o leitor mais distante da filosofia não precisa de se assustar pois esta não é uma tese de mestrado escrita no tom que estamos habituados. Ela está escrita como hoje em dia melhor se escreve filosofia, de forma muito clara, mas muito rigorosa, desmontando uns argumentos e montando outros. E estão lá os argumentos desenvolvidos de forma robusta que muitas vezes ocorrem nas nossas conversas, desde a emoção que a arte muitas vezes proporciona, até às questões epistémicas do mundo da arte. O livro tem um suporte bibliográfico actual e fiável.

Aires Almeida, O valor cognitivo da arte, Centro de Filosofia da Univ. de Lisboa, 2010

2 comentários:

Aldrin Iglesias disse...

Sem dúvida. A Arte é mais profunda que a filosofia e a música é a mais poderosa forma de manifestação artística que existe. Pergunte ao Schopenhauer e a todos os criadores de histórias mitológicas de todos os tempos.

Abraços,
Aldrin Iglésias,
Brasil.

Rolando Almeida disse...

Caro Adrin, não se trata em circunstância alguma de saber qual é mais profunda, nem se confunde em momento algum filosofia, arte e filosofia da arte. São áreas distintas. Abundam exemplos de má filosofia, pouco profunda (eu preferia dizer sofisticada) como exemplos de arte pouco profunda, ou música pouco sofisticada.